Suposições acerca de uma sociedade mundial, de uma paz mundial ou, simplesmente, de uma economia mundial, surgem seguidamente, cujas consequências levariam a processos de unificação e adaptação, aos mesmos modelos de consumo e a uma massificação cultural. Mas uma pergunta permanece: trata-se apenas de conceitos em disputa ou há algo que aponte, de facto, nesta direcção? Quais são, afinal, os efeitos culturais da globalização?
O processo de constituição de uma economia de caráter mundial não é nada novo. Já no período colonial houve tentativas de integrar espaços intercontinentais num único império, quando a idéia de “dominar o mundo” ficou cada vez mais próxima.
Por outro lado, a integração das diferentes culturas e povos como “um único mundo” já era desejada há muito tempo e continua como meta para muitas gerações. Sob esta óptica, o conceito de globalização poderia ter um duplo sentido, se ele não fosse tão marcado pelo desenvolvimento neoliberal da política internacional.
Conforme o sociólogo alemão Ulrich Beck, com o termo globalização são identificados processos que têm por consequência a subjugação e a ligação transversal dos estados nacionais e sua soberania através de actores transnacionais, as suas oportunidades de mercado, orientações, identidades e redes.
Por isso, ouvimos falar de defensores da globalização e de críticos à globalização.
Este processo, da forma como ele actualmente se tem desenrolado, não deveria sequer intitular-se globalização, já que atinge o globo de forma diferenciada e exclui uma parte considerável – se observamos a circulação mundial de capital, podemos constatar que uma percentagem significativa da população mundial (nomeadamente na África) permanece excluída.
Esta forma de globalização significa a predominância da economia de mercado e do livre mercado.
Concretamente, isto leva ao domínio mundial do sistema financeiro, à redução do espaço de acção para os governos – os países são obrigados a aderir ao neoliberalismo – ao aprofundamento da divisão internacional do trabalho e da concorrência e, não por último, à crise de endividamento dos estados nacionais.
A concentração do capital e o crescente abismo entre ricos e pobres (48 empresários possuem o mesmo rendimento que 600 milhões de outras pessoas em conjunto) e o crescimento do desemprego (1,2 bilhões de pessoas no mundo) e da pobreza (800 milhões de pessoas passam fome) são os principais problemas sociais da globalização neoliberal e que têm vindo a ganhar cada vez mais significado.
É evidente que esta situação tem efeitos sobre a cultura da humanidade, especialmente nos países pobres, onde os contrastes sociais são ainda mais perceptíveis.
Em função da exigência de competitividade, cada um se vê como adversário dos outros e pretende lutar pela manutenção de seu lugar de trabalho. Os excluídos são marcados como incompetentes e os pobres tendem a ser responsabilizados pela sua própria pobreza.
Paralelamente a isto, surge nos países industrializados uma nova forma de extremismo de direita, de forma que a xenofobia e a violência aparecem entrelaçadas com a luta por espaços de trabalho.
É claro que a violência surge também como reacção dos excluídos, e a lógica do sistema, baseada na competição, desenvolve uma crescente “cultura da violência” na sociedade.
Existe uma crescente valorização no que diz respeito à educação, sendo que o mais importante é a formação profissional, concebida como único meio de acesso ao mercado de trabalho. A idéia é que, com uma melhor qualificação técnica, existem maiores possibilidades de conseguir um emprego num mercado de trabalho em declínio.
A reflexão sobre os problemas da sociedade assume cada vez menos importância.
Importante é o luxo, o lucro, o egocentrismo, a “liberdade do indivíduo”. Estes valores são difundidos pelos grandes meios de comunicação e os jovens são, nisto, os mais atingidos.
O ser humano é cada vez mais estimulado a satisfazer prazeres supérfluos. Os excluídos são descartados sem perspectiva e encontram cada vez menos espaço na sociedade que, afinal de contas, está voltada para os consumidores..
Para além das diferenças étnicas, religiosas e linguísticas dos povos, podemos falar de uma nova divisão do mundo: de um lado, uma minoria que é beneficiada pela globalização neoliberal e, do outro, a maioria que é prejudicada com a ampliação do livre mercado.
Este conflito está no centro do debate actual da humanidade, cujos efeitos caracterizam o espírito do nosso tempo e influenciarão a cultura da humanidade futura. Se a imagem das futuras gerações será fragmentada ou mais homogeneizada ainda não se sabe, mas a possibilidade de uma crescente perda de humanidade é extremamente elevada
Adaptado do texto presente em: http://www.espacoacademico.com.br/026/26andrioli.htm~
Texto que nos remete para algumas consequências negativas provenientes do processo de globalização