" Não quero que a minha casa seja cercada de muros por todos os lados, nem quero que as minhas janelas sejam tapadas. Quero que as culturas de todas as terras sejam sopradas para dentro da minha casa, o mais livremente possível. Mas recuso-me a ser desapossado da minha por qualquer outra. "

- Gandhi

24 novembro, 2010

Efeitos cuturais da globalização

“Vivemos na era da globalização, tudo converge, os limites vão desaparecendo”. Quem nunca ouviu, no mínimo, uma destas expressões nos últimos anos? A globalização é um dos grandes temas do nosso tempo, uma discussão que está em voga, onde as opiniões fatalistas entram em conflito com afirmações críticas, e o medo da homogeneização está no centro do debate.

Suposições acerca de uma sociedade mundial, de uma paz mundial ou, simplesmente, de uma economia mundial, surgem seguidamente, cujas consequências levariam a processos de unificação e adaptação, aos mesmos modelos de consumo e a uma massificação cultural. Mas uma pergunta permanece: trata-se apenas de conceitos em disputa ou há algo que aponte, de facto, nesta direcção? Quais são, afinal, os efeitos culturais da globalização?
O processo de constituição de uma economia de caráter mundial não é nada novo. Já no período colonial houve tentativas de integrar espaços intercontinentais num único império, quando a idéia de “dominar o mundo” ficou cada vez mais próxima.
Por outro lado, a integração das diferentes culturas e povos como “um único mundo” já era desejada há muito tempo e continua como meta para muitas gerações. Sob esta óptica, o conceito de globalização poderia ter um duplo sentido, se ele não fosse  tão marcado pelo desenvolvimento neoliberal da política internacional.
Conforme o sociólogo alemão Ulrich Beck, com o termo globalização são identificados processos que têm por consequência a subjugação e a ligação transversal dos estados nacionais e sua soberania através de actores transnacionais, as suas oportunidades de mercado, orientações, identidades e redes.
Por isso, ouvimos falar de defensores da globalização e de críticos à globalização.
Este processo, da forma como ele actualmente se tem desenrolado, não deveria sequer intitular-se globalização, já que atinge o globo de forma diferenciada e exclui uma parte considerável – se observamos a circulação mundial de capital, podemos constatar que uma percentagem significativa da população mundial (nomeadamente na África) permanece excluída.
Esta forma de globalização significa a predominância da economia de mercado e do livre mercado.
Concretamente, isto leva ao domínio mundial do sistema financeiro, à redução do espaço de acção para os governos – os países são obrigados a aderir ao neoliberalismo – ao aprofundamento da divisão internacional do trabalho e da concorrência e, não por último, à crise de endividamento dos estados nacionais.
 A concentração do capital e o crescente abismo entre ricos e pobres (48 empresários possuem o mesmo rendimento que 600 milhões de outras pessoas em conjunto) e o crescimento do desemprego (1,2 bilhões de pessoas no mundo) e da pobreza (800 milhões de pessoas passam fome) são os principais problemas sociais da globalização neoliberal e que têm vindo a ganhar cada vez mais significado.
É evidente que esta situação tem efeitos sobre a cultura da humanidade, especialmente nos países pobres, onde os contrastes sociais são ainda mais perceptíveis.
Em função da exigência de competitividade, cada um se vê como adversário dos outros e pretende lutar pela manutenção de seu lugar de trabalho. Os excluídos são marcados como incompetentes e os pobres tendem a ser responsabilizados pela sua própria pobreza.
Paralelamente a isto, surge nos países industrializados uma nova forma de extremismo de direita, de forma que a xenofobia e a violência aparecem entrelaçadas com a luta por espaços de trabalho.
É claro que a violência surge também como reacção dos excluídos, e a lógica do sistema, baseada na competição, desenvolve uma crescente “cultura da violência” na sociedade.
Existe uma crescente valorização no que diz respeito à educação, sendo que o mais importante é a formação profissional, concebida como único meio de acesso ao mercado de trabalho. A idéia é que, com uma melhor qualificação técnica, existem maiores possibilidades de conseguir um emprego num mercado de trabalho em declínio.
 A reflexão sobre os problemas da sociedade assume cada vez menos importância.
Importante é o luxo, o lucro, o egocentrismo, a “liberdade do indivíduo”. Estes valores são difundidos pelos grandes meios de comunicação e os jovens são, nisto, os mais atingidos.
O ser humano é cada vez mais estimulado a satisfazer prazeres supérfluos. Os excluídos são descartados sem perspectiva e encontram cada vez menos espaço na sociedade que, afinal de contas, está voltada para os consumidores.. 
Para além das  diferenças étnicas, religiosas e linguísticas dos povos, podemos falar de uma nova divisão do mundo: de um lado, uma minoria que é beneficiada pela globalização neoliberal e, do outro, a maioria que é prejudicada com a ampliação do livre mercado.
Este conflito está no centro do debate actual da humanidade, cujos efeitos caracterizam o espírito do nosso tempo e influenciarão a cultura da humanidade futura. Se a imagem das futuras gerações será fragmentada ou mais homogeneizada ainda não se sabe, mas a possibilidade de uma crescente perda de humanidade é extremamente elevada

Texto que nos remete para algumas consequências negativas provenientes do processo de globalização 


05 novembro, 2010

Humor Anti-Globalizado







 
Alguns cartoons que satirizam o tema da globalização.